julho 30, 2003
Positividades

O pensamento positivo ainda e melhor e superior ao negativo, e isso nao tem nada a ver com auto-ajuda.

Lucubrado por Félix Felícato às 02:19 PM | Comentários (2)
Alerta aos amigos https://iq-trading.com.br/

“(…) Coulter’s answer to that dilemma is two-fold: look amazing and ratchet up the rhetoric against the left until it has the subtlety and nuance of a car alarm. (…)”

Coulter’s modus operandi is rhetorical extremity. She was fired from the conservative National Review magazine when, in the wake of 9/11, she urged the invasion of all Muslim nations and the forcible conversion of their citizens to Christianity. As media critic, Brendan Nyhan, has documented, her flights of fancy go back a long long way. No punches are pulled. Ted Kennedy is an ‘adulterous drunk’. President Clinton had ‘crack pipes on the White House Christmas tree’. You get the idea. In Coulter’s world, there are two types of people: conservatives and liberals. These aren’t groups of people with competing ideas. They are the repositories of good and evil. There are no distinctions among conservatives or among liberals. To admit the complexity of political discourse would immediately require Coulter to think, explain, argue. But why bother when you can earn millions insulting?

“(…) And part of the frustration of reading Coulter is that her basic causes are the right ones: the American media truly is biased to the left; some liberals and Democrats were bona fide traitors during the Cold War; many on the far left today are essentially anti-American and hope for the defeat of their country in foreign wars.

But by making huge and sweeping generalizations about all liberals, Coulter undermines her own arguments and comes close to making them meaningless. (…) In fact, when liberals taunt conservatives with being McCarthyites, conservatives now have to concede that some of their allies, namely Coulter, obviously are McCarthyites - and proud of it.

Quatro excertos do artigo de Andrew Sullivan a respeito de Ann Coulter, a destrambelhada da direita americana. E em gente como ela que se pensa para desmoralizar os conservadores iq-trading.com.br. Alias, e em gente como ela que se pensa para desmoralizar qualquer pensamento. Mesmo porque ela nao parece ter muito, investindo, no lugar, na oratoria inflamada. Em geral escrevem aqui retorica, mas a retorica e uma velha caluniada. Desde pelo menos Descartes que as pessoas preferem nao admitir que recorrem a figuras de linguagem e outras estrategias de persuasao ao defender seu ponto de vista. Pouco importa, pois o fazem mesmo que nao assumam. E e natural desde que a expressao nao tome o lugar do significado. Alguns, todavia, descobrem que a expressao retumbante, daquela que nao da tempo para o raciocinio e a replica, funciona com mais gente do que a argumentacao. E como um morteiro as vitimas sao muitas. Quem cai na esparrela mal lhe sente o senso critico encolher, e quem se acha imune nem percebe que confundira os trogloditas das palavras com os homens de ideias. E uma cisao esquizoide. Felizmente se tenta o bom juizo, as vezes movedico. O Midia Sem Mascara nao poupou Michael Moore. E eis sua contraparte: mulher, loira, bela e conservadora. Fica o conselho de Ron Radosh:

‘I think it is important that those who are considered critics of left/liberalism don’t stop using our critical faculties when self-proclaimed conservatives start producing crap.’

Lucubrado por Félix Felícato às 10:47 AM | Comentários (0)
A lua-de-mel eleitoral acaba...

De Claudio Humberto: HTTPS://iq-trading.com.br/

Leilao na ANP e um fiasco
Esta mesmo abalada a confianca dos investidores no Brasil: eles fogem ate do atraente 5? leilao para exploracao de petroleo e gas da Agencia Nacional do Petroleo, previsto para agosto. Encerrada a fase de manifestacao de interesse, dia 17, estao habilitadas so 15 empresas, incluindo empreiteiras empenhadas apenas em fisgar parcerias. O mercado considera que a reducao em 60% do interesse dos investidores constitui um fiasco historico.

Lucubrado por Félix Felícato às 09:48 AM | Comentários (0)
julho 29, 2003
Retornando à reflexão

Por vezes sou tomado de escrupulos realistas em minha filosofia intima. Uso de palavras e frases para raciocinar e me retenho quando perco o fio da meada. E que tambem me tomam as duvidas de se o que digo tem algo a ver com o que vivo diariamente. Uma exigencia moral minha: se eu nao puder falar sobre as coisas, sobre o que posso fazer com elas, e efetivamente faze-las, nao vejo sentido nisso tudo e prefiro me calar. Pois e a equivalencia instavel entre o verbo e o mundo.

Por isso, nessas vezes, dispenso as abstracoes, e fico so com o que ha de mais concreto. Muitas pessoas acham que abstrata e a metafisica, com suas transcendencias e realidades ultimas. Mas se admita que tanta coisa na terra dos homens e pouco concreta: sinto as manufaturas com o toque, mas a cronica historica prova que nao seriam caso nao fosse a vontade humana. Portanto, tem a concretude do arbitrio. De constituicao ainda mais diafana e tudo aquilo que se designa por cultural, de que falamos como se fossem objetos, mas que ninguem ve com os olhos, porem sente suas cordinhas a nos mexer.

Talvez ao me despojar de toda essa carga eu possa entender o convite ao olhar que Paulo Polzonoff Jr. faz para antidoto ao pensamento de Olavo de Carvalho. Ele tambem quer ver, porem com direcao. E as teorias que lhe sao oferecidas de todos os lados nao lhe satisfazem: todas desviam o olhar que quer encarar. Ai vai incluida a filosofia de Olavo de Carvalho, que para Polzonoff, nao passa dum “catalisador de nossas maldades e mesquinharias diarias”, o insulfilm na alma que impede de observar o cotidiano. E e esse cotidiano que ele apresenta como solucao e metodo.

Ponho o valor desse cotidiano por que Polzonoff tanto anseia logo em questao. Conheco, por exemplo, o seu imenso prosaismo. A rotina que repete monotonamente. As limitacoes e as agruras da vida. A aparente falta de sentido dos gestos banais. Sempre me pareceu que as grandes conquistas e ambicoes sao precisamente a tentativa de superar o carcere da existencia cotidiana: a carreira politica, o sucesso comercial, a bravura militar, a vocacao religiosa, a sublimacao artistica, a inteligencia filosofica. Todas tem sua rotina, mas seu premio e a ascensao sobre o tempo comezinho. A senda da grandeza e um paradoxo de homens que ralam como os demais, como qualquer um, e que se tornam como mais ninguem. E ainda nao fui capaz de tocar a raiz desse misterio: nenhum homem foge a excessiva realidade de viver, mas ha aqueles que fazem de si fantasticos espectros duma superioridade, sem deixar de existir como o mais mediano dos homens. Os renascentistas chamavam de sprezzatura esse talento de fazer as coisas mais complexas e sofisticadas parecerem simples e faceis. Se nos modernos temos o perverso gosto pelas biografias escandalosas, de desmascarar os idolos, e porque nao entendemos que ser superior sendo homem e um ato de sprezzatura.

E o que esse cotidiano ainda teria para oferecer, posto que o ideal humano em geral lhe passa longe? Os exemplos que Polzonoff da sao miseraveis: o mendigo que defeca, o louco de rua que pensa tocar uma flauta de PVC, o velho sem teto que empurra seu carrinho de tralhas, o malabarista de semaforo. E ele sabe que sao visoes que incomodam. As pessoas viram o rosto, pensam noutras coisas, fingem que nao ha nada. E inclusive criam teorias para abafar o escandalo pessoal diante dessas cenas. Polzonoff sugere olhar. E a radicalidade de sua sugestao esta em abandonar o refugio das teorias e das ficcoes, o insulfilm do intelecto. Sem esse peso, ele se sente em contato mais franco com o mundo e as pessoas.

Mas nao ha nada mau em teorias a nao ser a possibilidade de estarem erradas. E da natureza delas tal chance, pois sao o passo adiante do observador. Se aceito o convite e me abstenho de analisar, e me forco a olhar somente, em pouco tempo me sentirei entediado, atordoado, e inerte. Colecionarei nao sei quantos flagrantes isolados, mas por um respeito desmedido a cada um farei silencio sobre suas conexoes; me eximirei ate de encontrar relacao sobre algo que vi pela manha e o estado em que o achar a tarde. Pois a teoria nao e uma pelicula que veda a inteligencia, mas ela mesma em funcionamento.

O cotidiano oferece acontecimentos singulares, mas a sucessao dos dias inspira o sentimento de ordem e regularidade. O homem entao parte do arquivo do passado, experimenta no laboratorio do presente, e formula o pensamento que sera testado a medida que chega o futuro. Isso e feito por todos. Quando e feito pelo homem comum, e chamado experiencia de vida; quando e feito por grupos organizados, e chamado ciencia; quando e feito por homens excepcionais, e chamado filosofia. Mas e parte da essencia humana esse ir alem dos fatos para sacar-lhes uma compreensao que nao esta inscrita diretamente nos objetos da percepcao.

Polzonoff se engana se acha que recusando o pensamento conseguira um contato mais intimo com a realidade. Na verdade, dar-se-a o inverso. Capaz somente de enxergar o que se lhe poe de frente, ele se torna um observador passivo, dominado por uma multidao de estimulos confusos, ao inves de domina-los, como e do destino do homem.

Mas parte da estoria continua sem ser contada. Venho tratando genericamente do pensamento, mas o alvo do convite e especifico. Embora reserve espaco para todas as filosofias, a que lhe motiva o convite e a de Olavo de Carvalho, merecedora de epitetos como burrice, cegueira, miopia e mau-caratismo. A razao primeira que sustenta e que ela impede a seu seguidor o “generoso ato cotidiano do olhar”, supostamente abundante numa cidade como o Rio de Janeiro. Creio ter exposto a limitacao de tal juizo. Se ha algo de generoso no olhar, isso reside nao noutra coisa que na capacidade humana de raciocinar.

Por conseguinte, concluo: poucos nesse pais tem a visao mais generosa que esse mesmo Olavo de Carvalho em quem Polzonoff distingue intencoes mesquinhas. E o motivo se encontra no alcance de seu pensamento. Se, como disse acima, todo o homem deriva conclusoes sobre o ordenamento das coisas, e notorio que as especulacoes desse filosofo atinjam niveis tao dificilmente igualaveis entre nossos intelectuais. Isso se deve a seu raro senso de transcedencia, hoje tao ausente em nossa ideologia, que tende a nega-la, circunscrevendo toda a busca por sentidos a esfera desse mundo tangivel.

Essa e uma boa descoberta. Ora, teorias podem ser verdadeiras ou falsas, corretas ou erradas. A quem discordar de Olavo de Carvalho resta-lhe opor uma alternativa. Nao me consta que essa liberdade fundamental tenha sido em qualquer momento constrangida. E no entanto as reacoes que ele tem provocado entre seus adversarios indicam um estranho desconforto. A unica coisa que ele tem feito e expor seus argumentos e criticar os alheios. Nenhuma outra coercao e exercida. Qual, entao, a origem das dificuldades? De fato, ele especula num patamar a que nossa mentalidade nao esta mais acostumada. Aos psicologismos e biologismos, mantem firme conviccao sobre o poder da individualidade. Num mundo em que a ciencia expulsou a metafisica para o campo dos misticismos, ele a traz de volta, em cada reflexao que faz, desde politica ate teoria do conhecimento. Num debate em que o consenso e forjado numa aparencia de fraternidade e as divergencias sao admitidas desde que sejam detalhes inofensivos a tendencia geral, ele apresenta um dissenso petulante, que nao reconhece nenhuma autoridade senao a consciencia. E essa a fonte do incomodo.

Sintoma em Polzonoff sao suas imagens, que aparentam todo o proposito de flertar com ideais socialistas ao mesmo tempo que os nega, numa tentativa de irritar a liberais. Para ele os exemplos sao reais. Mas os colegios ingleses, os versos de Bruno Tolentino, os tercos, ou os oculos tambem sao reais. E uma escolha ou outra e preferencia. E tambem compromisso. Quem diz que o homem precisa de liberdade para trilhar seu caminho convida-o a ser sempre melhor. Quem toma o modelo da virtude oferece-o para os seus semelhantes. Mas resta saber que ensinamento de vida extrair da adversidade dos infelizes. Ou que redencao esperar das esquinas.

Lucubrado por Félix Felícato às 01:21 AM | Comentários (0)
julho 28, 2003
A lealdade que os companheiros cobram

Segundo ele, o presidente jamais se manifestou contra as invasoes de fazendas porque tambem fazia a invasao de fabricas. ‘Temos o Lula como nosso referencial de luta, pois aprendemos com ele a organizar o povo e lutar’. De acordo com Rodrigues, as invasoes sao uma forma de enfrentar o latifundio, que ele considera prejudicial ao Pais. ‘Seria o mesmo que ser contra a greve, mas foi o Lula que nos ensinou a fazer greve no ABC.

(…)

Considerado um dos principais lideres do MST no Pais, Rodrigues cobrou do presidente uma posicao mais explicita em defesa das invasoes como forma de luta contra a concentracao de terras. ‘A ocupacao nao atinge o governo, mas o latifundio. Se o Lula e contra a ocupacao, e a favor do latifundio’.

Lucubrado por Félix Felícato às 01:11 AM | Comentários (1)
julho 26, 2003
A arte é grande, mas o preço, pechinchado

Aproveitando o embalo do assunto, e sempre bom pesquisar precos. Minha ultima visita a Discoteca 2001 apresentou-me uma caixinha produzida pela EMI francesa com 21 concertos para piano e orquestra de Mozart, com o pianista Christian Zacharias. Nao inclui a todos, seis concertos ficam de fora, mas nao fazem falta. Nao estao os quatro primeiros, que mal tem propriamente a forma de concerto, e os de numero 7 e 10. Distribuidos em oito discos, trazem um dos genero em que Mozart mais exceleu. Comecando do decimo quarto, e uma sequencia de obras-primas. Mas deixo para me estender sobre a musica noutro momento, quando tiver ouvido com mais frequencia, me atrai agora o produto e seus precos. A caixa e curiosa: ao contrario doutras coletaneas, nao e feita com a mesma orquestra, nem com o mesmo regente, mas com seis orquestras e quatro regentes; so o pianista e que confere unidade. Tambem e uma daquelas budget box, vendida a uns US$ 30.00 la fora. Mas tem qualidade, a primeira audicao: sao gravacoes das decadas de 80 e 90, acerca das quais colhi elogios em foruns de discussao. Uma pechincha. Mas brasileiro tem de sofrer um pouco, e na loja supracitada pedem por ela a bagatela de R$ 260,00. Que adianta os produtores estabelecerem faixas distintas de preco se o varejo depois as recria a seu talante? Outro dia barganhei num sebo porque haviam fixado o preco dum album duplo com a ideia de que eram dois discos. A logica e impecavel se nao fossem dois a preco de um, originalmente. A loja tambem gosta de fazer isso. No fim levei na CD Point por R$ 96,21; embora ache que estivesse subcotada: nao esta mais no catalogo desde que meu pedido foi entregue.

Lucubrado por Félix Felícato às 05:19 PM | Comentários (1)
Criatividade antiga

Deixei ha pouco um comentario no Charles Pilger. Perguntava-se ele que sentido resta a uma arte —especificamente, a musica— se tudo ja parece tentado, e o que pareceu sobrar foram experimentos que nao empolgam ou convencem. Talvez falte o senso de contemporaneidade. Isso me lembra um livro de Nikolaus Harnoncourt —grande regente e pensador musical—, acho que O Dialogo Musical, em que compara a forma como ouvimos musica e como outrora se ouviu. Hoje cada ouvinte tem condicoes de ser um pequeno musicologo, com vasto acervo disponivel por gravacoes. Outrora se ouvia musica nos concertos, ou tocando-a. Os concertos primavam por novas obras, de contemporaneos, de acordo com o gosto da epoca. Conhecimentos historicos se reservavam a quem conhecesse musica, e a tocasse, ou mesmo a lesse. Musica de poucos anos ja era tida como velha, como fazemos atualmente com cancoes populares. Tudo isso nos faz crer em superioridade, mas a ilusao esconde que tambem perdemos a capacidade de ouvir os contemporaneos com simplicidade, e os artistas responderam com o claustro da vanguarda. O resto vai nos paragrafos seguintes, escrito no entanto com a concisao propria dos comentarios. Vai como amostra de tema que ainda posso desenvolver:

“Estranha a obsessao moderna por originalidade. Antes do Romantismo nao seria compreendida pelos grandes, que nao se furtaram de tomar emprestimos aqui e acola. Mas sabe por que as obras deles, cheias de pequenos plagios, sobrevivem? Porque funcionam esteticamente, e duma forma unica que nenhuma outra o faz. O primeiro erro de toda a vanguarda e sua obsessao por ser original, gente que quer ser classico antes de ser contemporaneo, por mais que digam o inverso. Tenho visto entre blogueiros muitos que se tem divertido colecionando e cacoando de cliches, chavoes, lugares-comuns. Como nenhum movimento coletivo tem ponderacao, vao acabar promovendo a assepsia da linguagem, uma especie de vitorianismo estilistico. Que isso de no contrario do intentado e mera conclusao de raciocinio historico.

Em vez de fazer arte neuroticamente, a solucao e faze-la sinceramente. A ambicao que vale a pena e a de fazer bem, a de criar com eficiencia, nao de garantir o nome no panteao. Isso ja nao somos nos que decidimos. Quem pensa diferentemente ou se entrega ao desespero da impotencia ou cede as facilidades do niilismo e do cinismo. Os primeiros ja nao criam, e os ultimos desistem do esforco da criacao, e apelam para automatismos e atalhos.”

Lucubrado por Félix Felícato às 05:00 PM | Comentários (1)
Eu vou me proteger!

Vou comprar uma camiseta com o Che estampado. Precisamos de colete a prova de balas hoje em dia.

Lucubrado por Félix Felícato às 04:08 PM | Comentários (0)
Panos quentes?

Que repercussao esperar do radicalismo descarado de Stedile? Tenho visto em jornais noticias da dita reacao do governo e das desculpas do proprio Stedile, que diz ter sido mal compreendido. Panos quentes sobrevoam. Aqueles jornalistas que nao tem receio de dizer o que esta acontecendo logo ganham alcunha. Diego Casa Grande escreveu uma coluna a respeito, e foi republicado em Midia Sem Mascara; mas ambos sao, por assim dizer, “suspeitos”. Suspeitos, claro, para quem prefere acreditar que nao e nada. Ha o editorial do Estadao. Mas esse vira jornal de direita quando interessa desmoraliza-lo, e nao se precisa fazer mais nada. Fica a velha frase de Stedile:

Precisamos recuperar os valores historicos da sociedade, que sao baseados no socialismo, no coletivo.

Lucubrado por Félix Felícato às 04:03 PM | Comentários (0)
Michael Jackson e sua lucidez infantil

“Here in America we create new opportunities out of adversity, not punitive laws, and we should look to new technologies… for solutions.”

Assim sentencia Michael Jackson em resposta a Consumer and Computer Owner Protection and Security Law, projeto que torna o download ilegal de musica e qualquer material sob copyright um crime federal punivel com prisao. O endurecimento da industria fonografica chocou o popstar, que se disse atonito com a ideia de prender adolescentes fas de musica. Se pegar musica sem a licenca —e o devido pagamento— e errado, ele concorda, tambem nao e correto agir com tamanha severidade com os que fazem isso.

Vale ser um pouco maledicente com as declaracoes de Michael Jackson. Que haja franqueza: ha algo de perturbado nele, seu comportamento tantas vezes trai uma infantilidade que fizeram os fofoqueiros de celebridades esmiucar sua infancia sabidamente turbulenta. Uma entrevista que deu recentemente foi uma cilada, em que o apresentador, conhecido por sua malicia, nao teve trabalho para expor um astro pueril, que nao tem muita responsabilidade pelos seus atos.

E facil, portanto, rejeitar suas preocupacoes como ingenuas. No entanto, penso, essa deve ser aquela ingenuidade que faz ver com mais clareza.

A industria cultural, grande devedora do copyright, esta angustiada. Teme a perda de fato do monopolio que vem sendo quebrado tecnologicamente. Tem tambem resistido a qualquer inovacao, em parte porque sabe que acarretara, com probabilidade, alguma perda nos rendimentos entao fabulosos. Engessou-se assim numa demanda que nao acompanha mais as transformacoes sociais. Com um juizo primario, condenou-as, e tem inventado formas de azucrinar quem se lhes oponha.

Michael Jackson ingenuamente se diz incomodado. Sabe que perde tanto quanto os empresarios que critica. Mas tambem nao lhe agrada saber que fas seus acabarao fichados, condenados e presos. Sua ingenuidade e tambem uma forma de honestidade moral. E essa que tem faltado aos demais.

Ingenuo como so os que aceitam os fatos ao redor sao, ele se faz aberto as inovacoes. E reconhece na necessidade a mae da invencao, esse mote americano, que seria um cliche nao fosse uma verdade. No fim, e ele quem enxerga mais longe:

It is the fans that drive the success of the music business.

Lucubrado por Félix Felícato às 03:39 AM | Comentários (0)
Quatro trechos urgentes

Declaracoes de Joao Pedro Stedile, veiculadas pelo Jornal da Globo:

Nos fomos visitar o Lula e o Lula em um gesto de fraternidade colocou o nosso bone. A burguesia ficou ouricada: o presidente nao pode botar o bone.

Eles e que nao sabem que o presidente Lula vem botando o nosso bone desde 1984. O que as eleicoes alteraram? Nao alterou so o presidente da Republica; alterou a correlacao de forcas.”

E olha que nem foi o Olavo de Carvalho quem disse…

Do outro lado tem 27 mil fazendeiros. Essa e a disputa que tem na nossa sociedade: 23 milhoes contra 27 mil. Da mil ‘trabalhador’ rural (sic) contra um. E aqui comeca a primeira reflexao: sera que mil consegue (sic) perder para um? E muito dificil. E ou nao e? Entao, o que esta faltando pra nos? Esta faltando pra nos juntar os mil, para cada mil (sic) pegar um.

E para fundamentar teoricamente sua incitacao a revolucao no campo:

Os indios nao tinham propriedade privada, nao tinha cerca. Quem trouxe a cerca foram os europeus, trouxeram o arame farpado. Se foi Deus que fez a terra, nao foi o homem, ninguem pode dizer esta terra e minha.

Como deu com a lingua entre os dentes, tentou consertar depois:

Aproveito a Globo para dizer que o sentido das minhas palavras nao era para estimular o conflito, o confronto, mas o sentido era para compreender que na nossa sociedade infelizmente existe uma grande desigualdade e que e preciso que os pobres tem (sic) o direito de trabalhar na terra.

Certamente, para Stedile, os mil-que-pegam-um sao uma imensa desigualdade social. E o desarmamento dara a essa desigualdade um tom brutal.

Lucubrado por Félix Felícato às 02:41 AM | Comentários (0)
Voltei!

Por pouco, apos quase uma semana de aporrinhacoes tecnicas, Lucubrando volta a atividade normal. Ossos do oficio de quem mantem uma pagina na internet.

Antes de montar esse blog, pesquisei varias ferramentas de weblogging. Entre os motivos que me fizeram escolher o Movable Type —alem de sua otima qualidade, que tenho averiguado— estava minha crenca de que exigiria menos do servidor em que estivesse hospedado. Eis meu raciocinio torto: seu script, em Perl, constroi e reconstroi as paginas do site no momento da publicacao, dispensando o servidor no restante. Outros scripts, em PHP, geram as paginas no momento mesmo da visualizacao pelo visitante. Fiz entao um calculo arrevesado: como um e menor que muitos (os muitos que sempre espero que me leiam), conclui que nao teria problemas. Bobagem. Por reconstruir todo ou grande parte do site ao publicar, o MT corre o risco de sobrecarregar um servidor nao muito firme, mais do que as alternativas, que, embora requeiram processamento a todo o instante, sao menos devoradoras de recursos.

Quebrei a cara, e quase quebrei meu ex-servidor. Ao menos, conforme minha ex-hospedagem, que me tirou sumariamente do ar, e pos no ar um aviso horrendo, que por pouco nao me chamava de caloteiro. Depois de me esclarecerem que o motivo nao era pecuniario, queriam que fosse apagado o script e que eu me comprometesse a nao mais instala-lo! Mandei-os as favas, e voltei a fila dos desalojados.

Mas agora estou de volta, espero que por bom tempo, sem turbulencias, sem sobrecargas, e ainda com o Movable Type, que nao pretendo trocar.

Lucubrado por Félix Felícato às 02:08 AM | Comentários (1)
julho 21, 2003
Não se esqueçam de mim!

Aproveito esse momento de curta calmaria para avisar a meus gatos-pingados leitores que Lucubrando passara por turbulencias.

Problemas tecnicos ja o haviam retirado do ar ontem, substituindo-o por um aviso horrendo que fazia crer a meus amigos que eu estava inadimplente, que palavrao.

Reclamando com a hospedagem, trocou-se por outra pagina, nao menos feliz, em que ela fazia propaganda de seus maus servicos. A custa do meu dominio!

Agora esta de volta, mas por pouco tempo. Descontente com a sobrecarga de servidor causada pelo Movable Type, fui desalojado uma vez, e nao demorara para o ser de novo.

Estou fazendo as malas, estou de mudanca. Mas discreta. Esse site devera ficar de molho por uma ou duas semanas, ate que eu saiba em que cantinho acomoda-lo. Mas para quem me le (alguem?), nada mudara: o endereco permanecera.

E so ter paciencia, e torcer. E recomendar um bom e tranquilo hosting. O email continua ai do lado.

Lucubrado por Félix Felícato às 02:10 PM | Comentários (3)
julho 19, 2003
Lendas digitais

Quem muito faz leva fama, e depois que a fama pega, nao adianta voltar atras. A palavra passa a valer mais que o fato. Do contrario, nao teria ido longe o boato de que Metallica processaria uma banda canadense por usar os acordes mi-fa, nessa ordem, alegando que era sua marca registrada. Teria virado propriedade intelectual, e seu uso indiscriminado causaria “confusion, deception and mistake in the minds of the public”. A noticia falsa e um primor de velhacaria, e o desmentido deixou ressaibo, uma vez que e bem concebivel —dizem— que os metaleiros levassem tal processo.

Por que acreditaram? E porque esta na internet? Isso e parte da estoria. Alguem lembra quando traficantes deram ordem para tudo fechar no Rio de Janeiro, e a cidade passou o dia trancada? Ainda este ano, recente na memoria. Os boatos voaram, todos disseram que muitos juraram que alguns viram marginais armados-ate-os-dentes com ameacas furiosas. Na duvida obedeceram. Convivem com a violencia todos os dias, que violencia mais um dia, mesmo falsa, passa por certa. Se o Metallica gosta dum tribunal, nada mais natural que estejam mesmo falando serio. Se hoje em dia copyright e samba do crioulo doido, pode-se esperar que alguem registre uma progressao de dois acordes. Historias verossimeis, fontes confiaveis.

Agora quero saber se aquela outra historia de plagio do silencio tambem e boato. Isso ou falta do que fazer.

Lucubrado por Félix Felícato às 01:17 PM | Comentários (1)
julho 18, 2003
Esconde-esconde musical

Com medo da pirataria antes mesmo do lancamento, o rei anunciou que mantera o original de seu ultimo disco em cofre, ate o momento da reproducao da primeira tiragem. Como esta prevista para quatro meses, seria tempo de sobra para os fas menos escrupulosos. Se mentalizarmos bastante, o rei perdera a combinacao desse cofre. Pelos escrupulos da Musica.

Enquanto isso…

A industria fonografica nacional nao lembra mais o que e boa musica, que e —licenca aos populistas— aquela que se inicia com o canto gregoriano (a mais antiga musica de fonte segura ainda em execucao) e vai ate alguns vanguardistas que se perderam nas correntes modernistas, mas passa por muito Bach, Handel, Vivaldi, Haydn, Mozart, Beethoven, Schubert, Brahms, Wagner, Mahler, Debussy, Prokofiev. Mesmo a musica brasileira, que ganhou sigla para ser conhecida no mundo, tem seus representantes: um Carlos Gomes, um Alberto Nepomuceno, um Radames Gnatalli, um Camargo Guarnieri, um Villa-Lobos, um Claudio Santoro, um Edino Krieger, e um que escolheu o pais, Koellreuter, professor de geracoes. Nao e hora de discutir qual o valor de cada um, pois o que importa a principio e reconhecer que a nossa fama popularesca em terreno musical e fruto de demagogia pe-rapada.

E nada melhor que autentica cultura musical para criar terreno propicio a reavaliacao do gosto. A industria fonografica tem ai papel crucial.

Que va aos concertos, me disseram. Quais? E mesmo que os frequente, o concerto impoe um limite. A literatura, privilegiadamente, nao depende de interprete. Posso ler tantos livros quantos quiser e puder. Ja para ouvir musica dependo do musico. E se estiverem no concerto, encontrarei series de obstaculos: o preco, os horarios, a duracao limitada, a impossibilidade de repetir, o repertorio, a plateia.

A gravacao musical mexeu com os habitos dos ouvintes. Deu chance a expansao inedita do repertorio. Antes o publico tinha conhecimento de parte restrita das obras, porque era o que rendia nos concertos. O resto era conhecimento privado dos musicos, em seu estudo pessoal. O disco trouxe interesse a pecas que dificilmente seriam tocadas, e mesmo com a frequencia necessaria para deixar marca na memoria.

Mas isso nao e concedido a brasileiros. Eu falava da industria nacional e seu aparente desprezo pela musica erudita. E um problema economico: nao da lucro. Ocorre com a musica fenomeno peculiarissimo: e que as classes arrogantemente cultas confessam predilecao pelos classicos da literatura, ao passo que dao gritinhos para algumas celebridades da musica popular, escolhidas segundo o gosto, e que acabam por ganhar o titulo de classicos, por extensao. A musica que por tradicao merece o adjetivo cai em segundo plano.

Ja foi melhor. Para as gravadoras nacionais, para o gosto musical, e para o comprador, que paga menos se o disco for daqui. Hoje a unica via e importar, e arcar com isso. Quem importa sabe como ninguem os humores do dolar e o inalteravel peso dos impostos. Taxa-se a importacao com a justificativa de proteger a industria nacional, mas nao entendo a utilidade de proteger o vacuo; ou o potencial, a preferencia e retorica. Se houvesse alternativas daqui seria um alivio pagar menos, mas so resta trazer de fora. E o tributo nao modera: livros sao isentos por serem produtos culturais, mas e discos? Deve ser a concepcao cultural dos legisladores, ou e o que parece. Pois se os juristas tivessem o minimo senso melodico, nao escreveriam da forma que o fazem.

O que as gravadoras daqui oferecem de erudito e risivel. Ouvi dizer que uma colecao de albuns duplos dedicados a Karajan tera producao nacional. Antes que os detratores desse regente ponham palavras em minha boca, declaro que e uma boa. A Sony brasileira lancara a serie “Music for You”, com boa oferta, mas, como sempre, limitada. Hoje o site expoe parcela dos titulos que eram ofertados ha tempos. Ao menos, consegui Perahia em Schubert, Schumann, Brahms, e Grieg. E temos a indefectivel colecao da Royal Philharmonic Orchestra, que invadiu lojas, tomando o lugar doutros CDs. E que e a opcao mais barata que ha; nacional, bate todos os discos importados. Sinto falta da Naxos, gravadora daquelas que veio com o intuito de oferecer discos baratos. Nao que tenha fechado, la fora continua firme e forte. Mas e que no Brasil ela produziu em acordo com a Movieplay —chegaram a custar R$ 10,00 os disquinhos—, e hoje mal os vejo. Importado sai por R$ 35,00 no minimo. No minimo. A EMI do Brasil e tambem daquelas que ja produziram nacionalmente, e depois se renderam ao gosto popular. Idem para a Universal, que nos trazia volta e meia algo da Decca e da Philips de la. Ja da Deutsche Grammophon, tradicionalissimo selo, nao se tem noticias se jamais aportou nessas terras (acho que nao conta a parceria com a Universal).

Resta ter o molejo do colecionador traquejado. Ir as lojas de discos mais sofisticadas (e fatalmente caras), acompanhar sites de lojas virtuais, frequentar sebos. Conhecer bem o catalogo, saber as faixas de precos, recorrer as recomendacoes esparsas.

Ir por exemplo as lojas da rede Siciliano, mesmo sabendo que nao tem o mais variado acervo, mas o mais em conta, quando achado. Nao fosse a proliferacao das colecoes barateiras com o surto ainda recente do dolar. Ir em seguida a Discoteca 2001, sabendo que sua politica de precos e maluca, e joga todos para cima. No meio as vezes ha o que valha. Comparar com as cotacoes da CD Point, justas pela importacao ainda que caras. Passar pelas livrarias virtuais com CDs, pois no meio da escassez e da platitude algumas joias. E, claro, os usados. Visitar a Amazon, atras dos precos de la e de opinioes idem. As criticas da revista Gramophone. As opinioes dos “criticos” nos grupos de discussao (jogue as palavras-chaves: compositor, interprete, nome das obras, e vasculhe). Sites dedicados, listas de discografia (relacao de links ao lado).

Mais que isso, so viver em pais civilizado.

Lucubrado por Félix Felícato às 10:23 PM | Comentários (4)
julho 09, 2003
O mínimo respeito

I was hacked. It was bad. Books are here, search engine, forums, and shopping cart will be online sometime this evening.

Isso em um dos melhores sites de livros eletronicos (ebooks) gratuitos na Internet. Hackers —ou crackers, se as palavras o melindrarem— nao tem etica, nem cultura.

Lucubrado por Félix Felícato às 02:33 AM | Comentários (1)
julho 01, 2003
Intimidade invisível

Joao Moreira Salles foca a camera no rosto de Nelson Freire enquanto ouve a melodia de Orfeu e Euridice, de Gluck, na transcricao de Giovanni Sgambati, tocada por Guiomar Novaes. Dizem que os olhos sao as janelas da alma, mas o que e visto pelo publico e, embora absorto na interpretacao, um homem que se constrange com aquela indiscricao de cineasta. Metaforas devem ser entendidas literariamente, fantasiosamente, e nao como descricoes literais da realidade. E surpreendente que as vezes as janelas da alma nos revelem os processos intimos do proximo, mas nao se pode esperar sempre devassa-lo com alguma observacao persistente. Seja la o que se passe dentro de Nelson Freire ao ouvir uma bela peca, nunca saberemos com certeza a nao ser quando nos tornarmos tal como ele.

Lucubrado por Félix Felícato às 02:08 AM | Comentários (1)
Eu sabia! Eu sabia!

As paradas de onibus com aquelas placas de vidro blindex nao iam longe. Varias dessas placas ja foram destruidas, e mesmo na minha quadra a parada foi quebrada. Mas nao tirarei sarro de que ja soubesse.

Lucubrado por Félix Felícato às 02:07 AM | Comentários (0)
junho 27, 2003
Che farò senza Euridice

A televisao anunciou: Silvio Barbato regeria a orquestra do Teatro Nacional numa versao concertante de Orfeu e Euridice, de Gluck. Seriam dois dias, que espetaculos em Brasilia tem vida curtissima. E a entrada seria franca. Como o Correio Braziliense ainda nao havia tomado conhecimento quando o visitei, fui ao site da Secretaria de Cultura. A programacao da OSTNCS, a orquestra, e de 2002, ou seja, posso saber tudo o que tocaram no ano passado. A agenda cultural no mes de junho diz que sera divulgada em data oportuna. Tomando o exemplo anterior, sera oportuna tao logo entremos em julho, ou em junho do proximo ano. Tambem nao foi nesse endereco que consegui o telefone do teatro, obtendo-o, isso sim, em outro a que cheguei pelo Google (que seria de minha vida sem ele?). Conclusao: os ingressos, que deveriam ser retirados previamente, se esgotaram, mas eu posso ficar na porta com esperanca na desistencia alheia. Ou na generosidade dalgum leitor.

Lucubrado por Félix Felícato às 01:04 AM | Comentários (1)
junho 21, 2003
Nem tudo está perdido nos campos do Espírito

Atendendo a apelo de irresistivel forca moral, venho contrapor a maligna metafisica dos filmes “Matrix” o ultimo paragrafo de livro de autor idoneo:

Truths turn into dogmas the instant that they are disputed. Thus every man who utters a doubt defines a religion. And the scepticism of our time does not really destroy the beliefs, rather it creates them; gives them their limits and their plain and defiant shape. We who are Liberals once held Liberalism lightly as a truism. Now it has been disputed, and we hold it fiercely as a faith. We who believe in patriotism once thought patriotism to be reasonable, and thought little more about it. Now we know it to be unreasonable, and know it to be right. We who are Christians never knew the great philosophic common sense which inheres in that mystery until the anti-Christian writers pointed it out to us. The great march of mental destruction will go on. Everything will be denied. Everything will become a creed. It is a reasonable position to deny the stones in the street; it will be a religious dogma to assert them. It is a rational thesis that we are all in a dream; it will be a mystical sanity to say that we are all awake. Fires will be kindled to testify that two and two make four. Swords will be drawn to prove that leaves are green in summer. We shall be left defending, not only the incredible virtues and sanities of human life, but something more incredible still, this huge impossible universe which stares us in the face. We shall fight for visible prodigies as if they were invisible. We shall look on the impossible grass and the skies with a strange courage. We shall be of those who have seen and yet have believed.” (G. K. Chesterton. Heretics. Chapter XX)

Lucubrado por Félix Felícato às 10:45 PM | Comentários (0)
Trecho sacrílego

O contraste da higiene verdadeiramente felina dos maometanos com a imundicie dos cristaos, seus vencedores, e traco que aqui se impoe destacar. Conde, em sua historia do dominio arabe na Espanha, tantas vezes citada por Buckle, retrata os cristaos peninsulares, isto e, os intransigentes, dos seculos VIII e IX, como individuos que nunca tomavam banho, nem lavavam a roupa, nem a tiravam do corpo senao podre, largando os pedacos. O horror a agua, o desleixo pela higiene do corpo e do vestuario permanecem entre os portugueses. Cremos poder afirmar que mais intenso nas zonas menos beneficiadas pela influencia moura. Alberto Sampaio destaca o desasseio do minhoto, tipico da gente mais europeia, mais loura e mais crista de Portugal. E verdade que Estanco Louro, em uma bem documentada monografia sobre o Alportel, freguesia rural do Sul, registra ‘flagrante desleixo pelo asseio’ da parte do alportelense: ‘falta de higiene corporea que na maior parte dos casos se limita a lavagem da cara aos domingos, de modo muito sumario’; ‘falta na vila de retretes publicas e de urinois; no campo de retretes, junto dos montes’; ‘a permanencia de pocilgas e de estrumeiras mesmo junto das casas de habitacao e das cavalaricas em comunicacao com estas’. Mas salienta por outro lado certas nocoes de asseio entre os habitantes que vao ate a obsessao. Nocoes porventura conservadas do mouro. ‘E o que se pode ver na lavagem frequente do solo da casa, na caiacao constante de casas e muros; na infalivel mudanca da roupa da semana por outra mais limpa […].’ Alias com relacao ao sul de Portugal deve-se tomar na devida conta a escassez de agua que coloca o morador de seus povoados e campos em condicoes identicas a do sertanejo do Brasil — outro que raramente toma banho, embora capriche na roupa escrupulosamente limpa e noutros habitos de asseio pessoal e domestico.” (Gilberto Freyre. Casa-Grande & Senzala. Capitulo III)

Lucubrado por Félix Felícato às 10:36 PM | Comentários (0)
junho 20, 2003
Sen. Hatch, ou o Neoluddita III

Ironia ou nao, apos provocar bastante indignacao com a ideia de jerico de “destruir” o computador de quem violar digitalmente o copyright alheio, sen. Hatch foi flagrado como “pirata de software”:

But Hatch himself is using unlicensed software on his official website, which presumably would qualify his computer to be smoked by the system he proposes.

Lucubrado por Félix Felícato às 09:44 AM | Comentários (1)
junho 19, 2003
Sen. Hatch, ou o Neoluddita II

A spokesman for the Recording Industry Association of America, Jonathan Lamy, said Hatch was ‘apparently making a metaphorical point that if peer-to-peer networks don’t take reasonable steps to prevent massive copyright infringement on the systems they create, Congress may be forced to consider stronger measures.’ The RIAA represents the major music labels.

Aparentemente, toda a vez que alguem importante fala bobagem logo os comparsas acorrem para jogar panos quentes.

The senator, a composer who earned $18,000 last year in song-writing royalties, acknowledged Congress would have to enact an exemption for copyright owners from liability for damaging computers. He endorsed technology that would twice warn a computer user about illegal online behavior, ‘then destroy their computer’.

This would involve creating new legislation to exempt copyright owners from old-fashioned laws that make it a crime to destroy other people’s property, and from somewhat newer computer trespass and misuse statutes as well.

(…)

While there may soon be an excuse for willful destruction of property, ‘there’s no excuse for anyone violating copyright laws’, Hatch explained.

(…)

[P]erhaps Congress will realize that Hatch is talking utter nonsense and ignore his bizarre suggestion. It all depends on how much money the MPAA and RIAA lobbyists can slip into the pockets of their Congressional lapdogs.

Lucubrado por Félix Felícato às 04:34 PM | Comentários (0)
Sen. Hatch, ou o Neoluddita

The chairman of the Senate Judiciary Committee said Tuesday he favors developing new technology to remotely destroy the computers of people who illegally download music from the Internet.

(…)

During a discussion on methods to frustrate computer users who illegally exchange music and movie files over the Internet, Hatch asked technology executives about ways to damage computers involved in such file trading. Legal experts have said any such attack would violate federal anti-hacking laws.

(…)

The senator acknowledged Congress would have to enact an exemption for copyright owners from liability for damaging computers. He endorsed technology that would twice warn a computer user about illegal online behavior, ‘then destroy their computer’.

Gente boa esse senador Hatch, nao e? Sera que ele ja leu Chesterton?

”(…) It is a sufficient proof that we are not an essentially democratic state that we are always wondering what we shall do with the poor. If we were democrats, we should be wondering what the poor will do with us. With us the governing class is always saying to itself, ‘What laws shall we make?’ In a purely democratic state it would be always saying, ‘What laws can we obey?’ A purely democratic state perhaps there has never been. But even the feudal ages were in practice thus far democratic, that every feudal potentate knew that any laws which he made would in all probability return upon himself. His feathers might be cut off for breaking a sumptuary law. His head might be cut off for high treason. But the modern laws are almost always laws made to affect the governed class, but not the governing. We have public-house licensing laws, but not sumptuary laws. That is to say, we have laws against the festivity and hospitality of the poor, but no laws against the festivity and hospitality of the rich. We have laws against blasphemy—that is, against a kind of coarse and offensive speaking in which nobody but a rough and obscure man would be likely to indulge. But we have no laws against heresy—that is, against the intellectual poisoning of the whole people, in which only a prosperous and prominent man would be likely to be successful. The evil of aristocracy is not that it necessarily leads to the infliction of bad things or the suffering of sad ones; the evil of aristocracy is that it places everything in the hands of a class of people who can always inflict what they can never suffer. (…)” (G. K. Chesterton. Heretics, Chapter XIX)

Lucubrado por Félix Felícato às 02:58 PM | Comentários (0)
junho 18, 2003
A obra sui-generis de arte sem alma

Ontem, 17 de junho, foi a data de nascimento de M. C. Escher, cuja popularidade pode ser conferida pela homenagem prestada pelo Google. A reboque, vieram as lembrancas individuais de blogueiros, ate havendo quem o dissesse “seu pintor preferido”.

Nessas pequenas efusoes pessoais, pouco importa que Escher nao tenha sido pintor, mas gravurista e desenhista. Em tempos toscos, distincoes sutis e tecnicas perdem o significado. E, de fato, chama-lo pintor e uma gafe menor diante desse desconcertante favoritismo.

Vale para mim o que li certa vez: Escher e popular porque foi um artista de grande apelo popular. Todo o artista usa de sua linguagem, sua tecnica e sua materia-prima para tornar concreta sua mensagem. O que antes era apenas ideia, torna-se coisa para o usufruto das multidoes e a passagem para as geracoes. Escher, fascinado por geometria, fez de seus desenhos ensaios dum ilusionismo virtuosistico. O mesmo publico que vai a museus e fica entre confuso e impassivel diante de quadros cujo sentido lhes parece fugidio encontra em Escher motivo para “passar o tempo”. Nao e certamente arte para ser entendida, nao da mesma forma que esperamos entender os outros pintores realmente grandes, mas para ser admirada com espanto. A mesma atitude, alias, que espero dos admiradores da arte dos fractais.

Nao parece haver mensagem, nao parece haver sentimento, nao parece haver estilo; ha apenas a ilusao otica de quem gosta de brincar com a imaginacao. O publico que gosta de imediatismo agradece.

Lembrei-me de Rimsky-Korsakov. Fatalmente busco comparacoes literarias e musicais para entender as demais artes. Mas Rimsky-Korsakov, russo autodidata, daquela geracao de musicos autodidatas, quando a Russia era provinciana demais para ter ampla educacao musical, aprendeu como ninguem a lidar com a orquestra. Dominou sua tecnica como poucos antes mesmo de estudar formalmente. E mesmo a seus estudos no conservatorio nao deve ser dado muito credito. Seu manual de orquestracao, escrito quando professor do Conservatorio de Sao Petersburgo, se mantem ate hoje. Conta-se que ao comecar suas aulas nem sabia os nomes dos acordes, pois os aprendera da forma mais perfeita, que e ouvindo. Com essa historia impressionante, que lhe teria faltado em sua formacao?

Ouvindo sua obra, digo: faltou-lhe cultura. Faltou-lhe aquele acervo de conhecimento que educa o gosto estetico, e implanta no espirito a distincao entre o que e bom e o que e mau, entre o que e belo e o que e feio. No que compos nao ha o que seja desagradavel, mas tambem nao ha o que seja sublime. Harmonizou cada nota, e lhe deu coloracao orquestral precisa; mas o resultado tombou sem alma. Rimsky-Korsakov tratou a musica como jogo de ilusionismo sonoro, e seu ensino criou raizes na Russia.

Nao digo, porem, que tenha faltado cultura a Escher. Mesmo porque conhecer nao basta ao genio estetico, que precisa em seguida processar tudo para gerar algo de proprio. Isso ele fez; todavia, ao tomar uma geometria fantastica como fonte de educacao, sua arte se desumanizou.

Lucubrado por Félix Felícato às 10:00 PM | Comentários (3)
junho 17, 2003
Mas o que me caberia... Continue a ler...
Lucubrado por Félix Felícato às 10:43 AM
junho 16, 2003
Protetor labial

Meu labiometro ja vem alertando: a umidade em Brasilia esta baixando. Hora de comprar um protetor labial. Duro e aturar em seguida os espirituosos: “hummmmm… esta passando batom?”.

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Lucubrado por Félix Felícato às 09:49 AM
junho 14, 2003
Malvados de Deus

Clique para ver a tirinha

Nesses tempos em que a salvacao e prometida em igrejas abertas a rodo, creio que em nenhuma outra, senao nos Malvados de Deus, se ha de encontrar o senso de humor em saber que os renascidos na fe estao a patrocinar a ascensao dos pastores. Quem sabe la de cima eles se lembrem de dar uma maozinha aos que ficaram por ca?

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Lucubrado por Félix Felícato às 03:31 AM | Comentários (1)
junho 08, 2003
O paralelo entre o trigo e o joio

Eric Voegelin foi um dos maiores filosofos do seculo XX. Sua obra “Order and History”, em cinco volumes, sintetiza e ordena numa reinterpretacao global da historia uma vastidao de conhecimentos quase inimaginavel, das inscricoes egipcias ate as ultimas novidades do direito, da economia e da linguistica. Da de dez a zero em Hegel, Spengler e Toynbee somados. De origem pobre, Voegelin passou fome para estudar. Continuou homem simples, deslocado em ambientes chiques. No auge da gloria academica, usava ternos surrados, fumava charutos mata-rato e nao tinha a menor classe no consumo de vinhos: bebia o bom e o ruim, incapaz de distingui-los, caindo de sono, vexaminosamente, ao fim do primeiro copo. Nao raro esquecia-se de cortar as unhas, amareladas de fumo. Era, diziam seus confrades, “um aristocrata intelectual com gostos proletarios”.

Luiz Inacio Lula da Silva, presidente do maior pais da America Latina, nasceu pobre e, ao longo de uma carreira de sucessos politicos espetaculares, foi mudando de habitos. Aprendeu a apreciar bons vinhos, a selecionar os melhores charutos, a aparecer em publico de unhas polidas, envergando ternos Armani, identico em tudo a um ricaco de nascenca. No auge da gloria mundana, gaba-se de nao saber falar ingles, mas de seus discursos em portugues nada sobra exceto os erros de gramatica. E um proleta intelectual com gostos aristocraticos.

Ha muitos estilos de um pe-rapado subir na vida. Cada um, a medida que ascende na escala social, vai colhendo os bens que, no seu tempo de pobre, lhe pareciam os mais desejaveis. E cada um, vitorioso, tem em torno os admiradores que o merecem.”

Olavo, perdao. Reproduzi na integra a segunda parte de seu ultimo artigo. Mas e que ele e tao bom, tao bom, tao verdadeiro; que retirar-lhe alguma palavra apenas debilitaria seu efeito. So a comparacao explicita esclarece a paixao que o brasileiro medio tem pela mesquinharia.

Lucubrado por Félix Felícato às 05:35 PM | Comentários (3)
E mais spam

Outro spam que recebi tinha no titulo “Acusamos o recebimento de seu email…”, o que poderia me enganar se eu nao soubesse tao bem que nunca entrei em contato com nenhum grupo de criacao de avestruzes.

Lucubrado por Félix Felícato às 05:28 PM | Comentários (2)
Spam, segundo os advogados

Recebi spam de escritorio de advocacia, com a seguinte nota:

Mensagem Importante: Nossa mensagem NAO e SPAM, veja o porque:
O e-mail e uma forma de correspondencia igual a uma ligacao telefonica ou a uma carta. No Brasil e no resto do mundo, da mesma forma que nao e necessario autorizacao para se mandar cartas ou telefonar para alguem, tambem e desnecessaria autorizacao previa para o envio de e-mails. De qualquer forma, nao ha nada na legislacao brasileira que refira-se a pratica do SPAM, ou que a regulamente e certamente quando existir apenas tornara obrigatorio ao remetente oferecer uma forma de exclusao uma vez que a proibicao seria inconstitucional. Se voce quiser sair do nosso grupo de mensagem, de um reply com o topico REMOVER. Portanto, se voce nao quer fazer parte deste grupo de mensagem, bastar retornar este e-mail com o assunto : RETIRAR, que estaremos automaticamente excluindo seu e-mail desta lista.

Convence?

E so responder, que eles estarao removendo o endereco da listinha deles.

Lucubrado por Félix Felícato às 05:26 PM | Comentários (1)

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